Parabéns, Vasco, Um Clube de Títulos Dentro e Fora de Campo

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No último dia 21, completou aniversário o Club de Regatas Vasco da Gama.A exemplo do post em homenagem ao Botafogo, não será citado nenhum grande jogador, ou serão enumerados os títulos do clube. Pelo menos nenhum título meramente esportivo. O Vasco tem um título que é mais importante do que qualquer Campeonato Brasileiro, Libertadores ou Mundial. O Vasco da Gama foi o clube que, sendo campeão carioca com atletas negros em seu elenco, acabou com o racismo no futebol.

O primeiro clube a aceitar atletas negros, no entanto, não foi o Vasco, e sim o Bangu. Nessa época, nas primeiras décadas do século passado, o futebol era amador, e um esporte elitista. Os atletas negros e pobres não eram aceitos nos clubes mesmo se fossem um “Pelé” ou um “Garrincha”. O Fluminense, por exemplo, para usar jogadores negros, passava pó-de-arroz nos atletas, para eles ficarem “brancos”. E essa prática vergonhosa é lembrada até hoje pela torcida tricolor, que chama o clube carinhosamente de pó-de-arroz. A propósito, voltando ao Bangu, em 1905, já havia um jogador negro no clube, o meia Francisco Carregal. Mas o clube que realmente acabou com o racismo no futebol foi o Vasco. O clube, que em 1924 ainda era considerado pequeno, e havia subido para a primeira divisão do Campeonato Carioca no ano anterior, havia sido proibido de manter 12 de seus jogadores, pois eles trabalhavam como operários, e isso significava que eram profissionais num esporte amador. Os jogadores, eram, coincidentemente todos negros enquanto os brancos dos times grandes (Botafogo, Flamengo, Fluminense, América) não foram citados. Como não acatou a decisão da AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Atlhéticos), que era a regulamentadora do campeonato, o Vasco acabou desistindo de participar da associação, e se retirou da AMEA.

“Quanto à condição de eliminarmos doze (12) dos nossos jogadores das nossas equipes, resolve por unanimidade a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociais desses nossos consócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.”

“Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V.Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA. Queira V.Exa. aceitar os protestos de consideração e estima de quem tem a honra de se subscrever, de V.Exa. At. Vnr. Obrigado”

Estes são dois trechos da carta histórica enviada pelo presidente do Vasco, José Augusto Prestes, a AMEA, quando desistiu de se juntar a AMEA.

O Vasco fundou, com outros clubes pequenos, uma liga paralela que permitia negros, e só voltaria a tentar entrar no seio dos grandes depois que fosse “maior do que todos eles” como disse o presidente.

Hoje, depois de tantos Campeonatos Brasileiros, uma Taça Libertadores, entre outros, o mais importante do Vasco ainda é, para mim, a luta contra o racismo no futebol.

“Eu vou torcerAqui eu ergui meu templo para vencer
Eu já lutei por negros e operários
Te enfrentei, venci, fiz São Januário
Camisas Negras que guardo na memória
Glória, lutas, vitórias esta é minha história”
Torcida do Vasco

4 Responses to "Parabéns, Vasco, Um Clube de Títulos Dentro e Fora de Campo"

Anônimo Says :
26 de agosto de 2008 às 23:35

Agora que reli esse post e o do Thaco em seguida, percebi que a atitude do Vasco se assemelha ao que o Thaco diz com "Ter bondade é ter coragem", mesmo que o ato do Vasco não seja um ato de caridade,e sim uma questão de honra.

Matheus de Carvalho Says :
27 de agosto de 2008 às 22:33

Bom texto... trás mais que futebol, com certeza.

Racismo é um problema, que poucos tem total conhecimento, apenas saem repetindo o que veem na TV, um dicionário às vezes cai bem.

Parabéns cara!

Luiza Miranda Says :
27 de agosto de 2008 às 23:58

Taí mais uma coisa bonita que eu não sabia. E é uma pena esse tipo de coisa não ser divulgado, exemplos estão aí para serem seguidos (é inevitável o uso do famoso clichê) e não esquecidos.
Parabéns por lembrar-nos que as coisas não precisam ser apenas o que são, existe muita coisa por trás, e que às vezes precisa ser mudada.

Mahatma Naiads Says :
30 de agosto de 2008 às 18:29

É verdade, l.hobbit....
Eu que sou vascaína também não sabia disso...
Realmente lamentável o que o Fluminense fazia, pó de arroz? Mas temos que dar créditos à idéia de que pelo menos eles jogavam... Porém, tendo que sofrer uma discriminação terrível...
Concordo também com o Thaco, este texto vai muito além do mundo futebolístico, mostra uma realidade social...

Parabéns Nilton!
E, saudações vascaínas para todos!

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