“Rock and roll ain’t noise pollution.”

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Estava assistindo TV e me deparo com um de meus filmes favoritos: “Escola de Rock”, com o talentoso e cômico Jack Black. Porém, muito além de observar um monte de crianças que começam a tocar com o malandro roqueiro Dewey Finn e, realmente, conseguem fazer um “rock’n’roll” de qualidade, notei um assunto bem interessante que é abordado pelo protagonista em uma das cenas: o Rock foi criado com um objetivo primário: revolução. No entanto, como vem acontecendo com tudo vem sucumbindo ao nosso sistema e virou algo comercial. Essa popularização do estilo musical fez com que muitos passassem a ter uma visão preconceituosa, de que isto não é música de verdade. Porém, como boa admiradora dos bons clássicos do Rock, gostaria de defender o rock’n’roll, iniciando com o trecho musical/título do post da banda australiana AC/DC – Rock’n’roll não é poluição sonora!
Inicialmente, o estilo foi criado como forma de oposição ao sistema vigente em cada época, como protesto contra questões mais polêmicas ou mesmo mais negligenciadas por cada geração. Ainda não era algo tão vinculado à idéia de música para fins lucrativos, ou seja, à superficialidade ou ao apreço a uma imagem marcante. Não era esse o objetivo de bandas como Iron Maiden, quando interpretou “Hallowed be thy Name” (ou “Santificado seja vosso nome”), que descreve os aspectos polêmicos da Idade Média como a igreja católica e a santa inquisição. Chegam mesmo a citar o “Gallows Pole”, onde os hereges eram assassinados na forca.
Não era o objetivo dos Beatles, que até mesmo passaram por uma fase hyppie, caracterizada pela oposição ao sistema capitalista, ao consumismo, ao estresse cotidiano.
Claro que devemos considerar o fato de que estas bandas acabaram repercutindo de tal forma que, por mais que não fosse de forma tão direta, acabaram sucumbindo ao sistema, tempos depois. Mas, quando o rock’n’roll começou a perder seu caráter mais mental e, passou a ser mais comercial? O grande pivô disso tudo: Kiss. A banda de Gene Simmons, com suas máscaras estranhamente misteriosas e sua simbólica língua sangrenta, iniciou a moda de bandas visuais, ou seja, que se focam mais no sucesso midiático do que na mensagem que passam em si. Outros bons exemplos são os expoentes do psicodelismo como Twisted Sister e Van Halen. Não que estas bandas não sejam boas, mas que o Rock teve sua função totalmente modificada, não podemos questionar.
Hoje em dia, ainda temos bandas que tentam mostrar mensagens de protesto contra a nossa realidade como: Linkin Park, Coldplay, U2, Offspring, Green Day, etc. Mas o reconhecimento destas bandas, temos que admitir, foi conquistado muito mais por uma imagem, um estilo que as caracteriza, do que por uma letra de música que tenha sido analisada por todos nós, fãs. Obviamente, devemos considerar, ainda assim, as exceções, que realmente se identificam com as ideologias das bandas. Nota-se que, na atualidade. as bandas engajadas acabaram tendo que adaptar-se ao capitalismo vigente.
Agora, ressaltando a realidade nacional. Poucos são os aspirantes a antigos e ousados visionários, que não temiam criticar o sistema, como: Cazuza, RPM, Legião Urbana, Titãs, Cássia Eller, Ultraje a Rigor (de modo mais cômico, mas ainda assim, ousado), etc.
É só ouvirmos hinos ao protesto como “Que País é Esse?”, do Legião; “Mim gosta ganhar dinheiro”, do Ultraje; “Desordem”, dos Titãs; “Rádio Pirata”, do RPM; entre muitos outros.
Não podemos esquecer que em épocas de “ditadura”, há a grande problemática da censura. O cantor Paulo Ricardo da banda RPM conheceu de perto este “monstro” da época ao lançar o hit “Alvorada Voraz”.
Triste comparar músicas de tão alta qualidade com os sucessos de hoje. Músicas sobre sexo, drogas, apologias à evasão da realidade, romances adolescentes (relaciono aqui à idéia de “ficar”, o amor instantâneo, que começa rápido e termina mais rápido ainda). O problema é que, tenho que admitir, por vezes pego a mim mesma cantando alguns destes singles que ficam em nossas cabeças (mas não em nossas mentes) durante um bom tempo.
Mas, obviamente, não posso apenas idolatrar o Rock sem considerar a grande problemática que envolveu não apenas a juventude de Woodstock, como ainda envolve expoentes da música atual, como a cantora Amy Winehouse: “Sexo,drogas e Rock’n’roll”: um dos conceitos mais errôneos associados a este estilo musical, incrivelmente lamentável.
Se abordado com seriedade, o Rock seria uma saudável forma de repúdio à inaceitável realidade que estamos vivendo. Como isso é feito apenas por um restrito (e bastante restrito) grupos de bandas, ficarei um pouco saudosa das grandes bandas do século passado, apresentando os seguintes trechos para reflexão:

“Nesse mundo assim, vendo esse filme passar...
Assistindo ao fim, vendo o meu tempo passar....”
Alvorada Voraz – RPM


“I’m on the Highway to Hell....
On the Highway to Hell...”
Highway to Hell – AC/DC

Esta última música merece atenção especial pois foi feita pela banda pouco tempo antes de irem em turnê nos EUA. Como não queriam sair muito de seu mundinho fechado australiano e em partes da Europa, chamaram os EUA de inferno pois sabiam que a idéia de fama e fortuna subiria suas cabeças, já que estavam na grande potencial capitalista.


Let’s rock’n’roll!

Um grande abraço!

2 Responses to "“Rock and roll ain’t noise pollution.”"

Matheus de Carvalho Says :
31 de agosto de 2008 às 17:40

AC/DC = Alternate Current/ Direct Current

Traduzindo: Toca em qualquer tomada.

Texto muito bom.

Dias Says :
31 de agosto de 2008 às 23:45

Muito bom!

Mas uma pequena correção.
A primeira grande estrela do rock foi um produto do capitalismo: Elvis Presley. O rock é o filho rebelde do capitalismo que em sua maturidade se vê agindo como o próprio pai.

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